No dia 09 de abril foi assassinado em Buritis o professor Renato Nathan Gonçalves Pereira. Relatos de moradores e amigos levam a crer que Renato tenha sido executado com três tiros na cabeça por policiais civis de Ouro Preto do Oeste quando teria sido abordado numa blitz noturna em uma estrada da região de Jacinópolis. Nenhuma pericia foi feita no corpo de Renato, assim como nenhum esforço foi feito para encontrar os responsáveis de sua morte.
A história do companheiro Renato é a mesma de centenas de trabalhadores de Rondônia. Nascido numa família de camponeses, sua família deixou o norte de Minas para se instalar em Rondônia no inicio dos anos de 1970, em busca do sonho de um pedaço de terra e uma vida melhor. Renato nasceu 24 de dezembro de 1983 em Colorado do Oeste-RO. Em 1986 mudou se para o município de Jaru, era o filho mais novo de 5 irmãos. Desde criança trabalhou na roça junto com o pai e seus irmãos enfrentando todo tipo de dificuldades e sofrimentos. Um fato que o marcou e causou profunda indignação foi a morte de sua irmã, vítima de meningite aos onze anos por total falta de assistência médica.
Em 1992 a família deixa o sitio e se estabelece na cidade de Jaru, onde Renato trabalha em serrarias e outros serviços. Trabalhava de dia e estudava a noite como muitos jovens filhos do povo.
Na escola chama atenção dos professores pela capacidade de redação de textos. Influenciado por uma professora despertou o interesse por política e pela história das revoluções socialistas. Começou a participar de atividades de apoio ao movimento camponês combativo e passa a ter contato com a luta pela terra na região de Jaru, Theobroma, Vale do Anari e Machadinho. O convívio com os camponeses despertou ainda mais a necessidade de entender os graves problemas sociais do país que causavam tanto sofrimento ao nosso povo, via que estes problemas afligiam milhões de famílias como a sua.
Ainda na escola secundarista iniciou sua participação no movimento estudantil ajudando a organizar os estudantes numa ampla luta por mais democracia dentro das escolas e contra as diretorias autoritárias. Participou ativamente na conformação do MEPR em Rondônia sendo eleito delegado para representar os estudantes em dois Encontros Nacionais do movimento. Também participou de diversos encontros e reuniões da juventude camponesa em Rondônia.
Por ser um aluno aplicado no estudo da filosofia, história e matemática, se tornou referência para outros estudantes. Sua curiosidade e incessante busca pelo conhecimento o levaram a aprofundar o estudo da realidade brasileira. Mas o companheiro Renato não se limitava apenas a estudar, foi aprender na prática da produção, do conhecimento cientifico e com as lutas do povo.
Quando concluiu seu curso colegial aceitou um convite de professores da Escola Popular e deixou a casa dos pais para ajudar na criação de turmas de Alfabetização e no trabalho das escolas no campo. Atuou primeiramente em Corumbiara onde por 2 anos deu aulas para crianças e adultos na Escola Família Camponesa. Além de dar aulas também ensinava artes marciais e educação física aos jovens nas horas de lazer. Ajudou na organização da associação de produtores na Vitória da União e Vanessa onde criou vários laços de amizade e companheirismo trabalhando com os camponeses e suas famílias.
No período em que esteve em Corumbiara ajudou a encaminhar para o tratamento de saúde vários camponeses vítimas do massacre de Corumbiara através do apoio conquistado entre médicos, estudantes, professores, advogados e simpatizantes nas cidades. Este trabalho foi fundamental para iniciar a campanha pela indenização das vítimas e pelo corte das terras da fazenda Santa Elina.
Em Machadinho do Oeste, nos assentamentos Palma Arruda e Agrovila por 2 anos ajudou a reorganizar a Escola Família Camponesa da Barragem através de reuniões, mutirões de limpeza, cursos de formação e atividades de produção. Ai conhece sua futura esposa, com quem se casa algum tempo depois e tem uma filha em 2010.
Desde 2006 mudou-se para a região de Buritis, desenvolveu entre os camponeses o trabalho de organizar assembleias para discutir a solução de seus problemas sem esperar pelo velho Estado burguês-latifundiário, ajudou na organização de trabalhos coletivos para a construção de pontes e estradas. Incentivou aos pais lutarem e exigirem das prefeituras escolas nas linhas e postos de saúde para o atendimento de casos de malária e energia elétrica nos lotes. Em reconhecimento pelo seu trabalho consegue um lote na área Capivari onde constrói sua casa com ajuda de outros camponeses. Junto com moradores da região criou Assembleias Populares e a Associação de Produtores do Capivari da qual fazia parte.
Também era um dos professores que coordenaram a campanha de alfabetização em Jacinópolis, entre 2007 e 2009, participando de levantamentos de alunos, arrecadação de recursos e materiais entre os moradores da região e realizando cursos de formação de alfabetizadores junto com camponeses jovens e adultos. Era muito conhecido e querido pelos moradores da região, pequenos e médios proprietários, pequenos comerciantes, professores e apoiadores sempre procurado para opinar sobre todos os assuntos, assim como para ajudar na organização de diversas festas, celebrações e atividades culturais como exibição de vídeos e teatro. Via a necessidade de que o povo desenvolvesse seus instrumentos de propaganda e se tornou um entusiasta e divulgador de materiais da imprensa democrática e popular como o Jornal A Nova Democracia.
Nos últimos anos vendo as dificuldades dos camponeses em realizar o corte de áreas tomadas pelo latifúndio se debruçou no estudo dos princípios de cartografia e topografia, realizando trabalhos em várias localidades e ensinando o oficio para outros camponeses para que este conhecimento se difundisse.
Por defender com clareza a necessidade do povo se organizar para não votar, rechaçando a farsa das eleições podres e corruptas burguesas, era odiado por politiqueiros e oportunistas de todas as laias. Renato defendia que o povo deve decidir sobre sua vida todos os dias e não apenas de dois em dois anos para eleger e legitimar aqueles que nos roubam e nos oprimem.
Renato sempre foi muito atencioso com a família e com seus amigos. Pelo seu jeito simples e honesto construiu laços profundos de amizade por onde quer que tenha passado e sempre será lembrado por todos que o conheceram. Alegre sempre gostava de contar causos engraçados nos momentos de confraternização. Mas também tremia de indignação diante das injustiças do velho Estado contra o povo. Quando souberam de sua morte dezenas de pessoas que conviveram, trabalharam e lutaram junto com ele ficaram tristes e inconformados pelo tratamento dado pela imprensa e forças repressivas.
Após seu assassinato uma verdadeira campanha de difamação e mentiras, todas vomitadas pela policia nos ouvidos da imprensa de Rondônia, que em sua maioria sempre se posiciona ao lado dos grandes latifundiários, grandes empresários e políticos corruptos. Verdadeiros bandidos que querem fazer passar por "gente ordeira e trabalhadora". Basta ver como tratam qualquer reivindicação do povo, seja uma greve estudantil, sejam greves de operários, luta por moradia, greves do funcionalismo público, lutas dos povos indígenas etc. Sempre defende e legitima todo tipo de violência policial contra o povo pobre.
Mas enganam-se os que acreditam que através de porcas e maltraçadas linhas vão ocultar a verdade por muito tempo e apagar da memória das pessoas o grandioso exemplo de amor e dedicação que foi a vida do professor Renato.
Também nos causa indignação a tentativa de criminalizar a luta pela terra, lançada pelo Coronel PM Enedy Dias, através de dados infundados que tenta imputar a violência e mortes no campo aos camponeses pobres.
Tenta com isso encobrir os crimes dos latifundiários e seus bandos armados contra os camponeses de Buritis, Rio Alto, Jacinópolis, União Bandeirantes e Rio Pardo. Inclusive os crimes da Policia de Rondônia que desde suas origens atua como força auxiliar armada do latifúndio, expulsando camponeses e povos indígenas de suas terras, perseguindo, prendendo, torturando e assassinando trabalhadores.
É um orgulho ver sair do seio da nossa juventude, dos filhos das classes mais pobres e trabalhadoras pessoas como Renato que dedicou sua vida pela transformação de nossa sociedade e libertação de nosso povo. Seu exemplo de abnegação no estudo e trabalho, otimismo, audácia e combatividade, deve ser exaltado e defendido, por todos aqueles que acreditam e lutam por um mundo melhor.
Nós da UCMG conclamamos a toda juventude de nosso país e principalmente aos estudantes a denunciar nas escolas e universidades o covarde assassinato do professor Renato pelas forças policiais do Estado de Rondônia e exigir apuração e punição de todos os envolvidos neste crime.